Descobrindo Charlotte Mason
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A CONCEPÇÃO

A CONCEPÇÃO
Telina Alves
set. 18 - 4 min de leitura
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CONCEPÇÃO


Perdera as contas de quantas vezes tentou engravidar em vão. Cada gota que fluía, mês após mês, anunciava uma esperança moribunda.

Numa dessas situações de tristeza e frustação, enquanto as lágrimas a embalavam, adormeceu. Sono inquieto... ela sonhou.

Na verdade, não me atrevo a dizer se algum devaneio, sonho ou realidade foi. Assim aconteceu:

Eva Maria estava sentada há horas observando as crianças ao longe em suas brincadeiras no sangradouro do açude. Percebeu então barulho de galhos sendo quebrados e um súbito esvoaçar de aves. Medo. Um temor enorme se apoderou dela e viu-se paralisada sem qualquer reação de fuga.

Um homem de aspecto comum, sorriso largo e olhos muito, muito brilhantes aproximou-se dela de forma gentil e cavalheiresca.

_Peço perdão pela minha aparente demora, mas, acredite: Fui pontual.

Sem entender o que o estranho estava a dizer, muda e ainda sem esboçar reação, o medo cedia lugar à curiosidade. O semblante daquele homem, de alguma forma, dissipou lhe o pânico e um impulso quase infantil a impelia junto a ele com confiança.

Trouxe-lhe um presente. Na verdade, há muito tempo o tenho selecionado e preparado com muito entusiasmo e hoje venho te entregar.

O homem tomou-lhe a mão e, abrindo-a delicadamente, depositou uma pequena semente em sua palma.

_Ela é bem pequena, eu sei. Aparentemente comum – ele sorriu com amabilidade – mas certamente – aí seu rosto revestiu-se de um aspecto solene – a nenhum herói, ou sábio, em qualquer que esteja na História o seu lugar, foi dado uma missão que sobrepujasse ao tipo da tua, jovem jardineira!

Sem dar-lhe chance de qualquer reação, continuou:

Toma esta semente e a deposita com cuidado naquela terra que fica embaixo do balanço do jardim de tua casa, bem aonde tu vens regando e adicionando sais à terra com tuas abundantes lágrimas e tuas melodiosas orações diárias. Memorizei algumas delas de tanto que me agradaram!

Eis que te coroo rainha nesse momento, pois já fiz de teu esposo rei. Cuida de não delegar tua função a outrem e deleita-te na majestade da maternidade!

Quando estiver com as mãos sujas de terra, cabelos desgrenhados, rosto suado...lembre-se do privilégio de teu encargo e tenha uma submissão orgulhosa: obediência digna, no uso de tua autoridade paras o serviço: o mundo todo está contando contigo!

Cria esta semente devagar, regando-a com tuas lágrimas e preparando a terra sempre de joelhos genoflexos.

Eu te garanto quer todos os dias enviarei os raios do meu sol para ti e tua pequena.

Por último, te dou este par de alianças: uma para ti e outra para Adam, seu esposo.

E, ao abrir suas mãos lentamente, revelou duas joias incomparáveis, ofertando-as com um discreto sorriso.

Com a respiração quase suspensa, Eva leu a gravação escrita com letras impecáveis: “Teus conselhos, nunca precederão teu ser”.

Como se nenhuma palavra a mais fosse necessária, sorri,  vira-se e retorna pelo caminho da mata à dentro, deixando atrás de si um perfume que evocava a própria infância de Eva parcialmente apagada pelo feroz e implacável tempo.

Como que despertada pelos gritos das crianças que ainda brincavam, Eva Maria retornou lentamente para sua casa e a cada passo parecia que flutuava, tamanha felicidade e espanto que dela se apoderou.

Adam, sentado à sua espera, a fitava como se tudo tivesse presenciado. Nenhuma pergunta.

Estendeu o dedo para que ela pusesse o anel junto à aliança de casamento com um sorriso marejado nos lábios. Abraçaram-se. Ele se ajoelhou e beijou-lhe o ventre demoradamente. Sentaram-se nas cadeiras de balanço, em sua pequena varanda, ao som de bem-te-vis e cardeais do nordeste, apreciando o cheiro dos bulgaris como se a nenhum outro rei e rainha fosse oferecida recepção mais bem preparada e honrosa.


Telina Cleine.


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