A questão da perspectiva histórica e a possibilidade de trazê-la a seus alunos está muito na mente dos professores agora, e o ensino da história universal, interligado por gráficos de tempo de vários tipos, está sendo considerado pelas autoridades educacionais em geral. A P.N.E.U.* sempre defendeu o ensino da história universal e a Parents’ Union School tem, há trinta e sete anos, História Estrangeira e Antiga, além da História Inglesa, em seus programas. Algumas frases de “Um ensaio rumo a uma filosofia da educação” [An Essay towards a Philosophy of Education], de Miss C. M. Mason, resumem as razões que ela tinha para defender este amplo estudo da história:
“Já falei da história como uma parte vital da educação e citei o conselho de Montaigne de que o professor deverá, com a ajuda das histórias, informar-se sobre as mentes mais dignas que existiram nas melhores eras. Para nós, em particular, que estamos vivendo em uma das grandes épocas da história é necessário saber algo sobre o que aconteceu no passado para pensarmos com justiça sobre o que está acontecendo hoje.”
* * * * * *
“O estudo da história antiga… abordamos através de um livro organizado cronologicamente sobre o Museu Britânico (agora esgotado, escrito para os alunos do PUS pela falecida Sra. W. Epps, que teve o dom deleitoso de perceber o progresso das eras representadas em nosso grande arquivo nacional) … A Srta. G. M. Bernau agregou valor a esses estudos produzindo um “livro dos séculos” no qual as crianças desenham tais ilustrações à medida que conhecem os objetos de uso doméstico, de arte, etc., relacionados ao século sobre o qual estão lendo. Achamos este pequeno estudo do Museu Britânico muito valioso; caso as crianças tenham ou não a oportunidade de visitar o próprio Museu, têm a esperança de o fazer e, além disso, despertam a sua mente para os tesouros dos museus locais.”
* * * * * *
“É uma grande coisa que uma pessoa possua um cortejo de história no fundo de seus pensamentos. Podemos não ser capazes de recordar esta ou aquela circunstância, mas, ‘a imaginação está aquecida’; sabemos que há muito a ser dito em ambos os lados de cada questão e estamos a salvo da grosseria de opinião e da temeridade de ação. O presente se torna enriquecido para nós com a riqueza de tudo o que aconteceu antes.”
“Talvez o defeito mais grave dos currículos escolares seja que eles não dão uma introdução abrangente, inteligente e interessante à história. Deixar de lado ou mesmo começar com a história do nosso próprio país é fatal. Não podemos viver de maneira sã a menos que saibamos que os outros povos são como nós, com uma diferença, que sua história é como a nossa, porém com uma diferença, que eles também foram representados por seus poetas e seus artistas, que eles também têm sua literatura e sua vida nacional. Estamos dormindo e nosso despertar é bastante terrível. As pessoas a quem não ensinamos levantam-se sobre nós em sua ignorância e ‘o populacho…
‘Como se o mundo fosse recomeçar,
Sem que lembrem tradições, esquecidos os costumes,
Grita: ‘Escolha-nos!’” — Hamlet.
Que o céu ajude sua escolha, pois escolher é realmente algo pertinente a eles, e eles sabem pouco sobre esses dois retificadores e suportes de cada palavra e ação presente: a Antiguidade e o Costume! Nunca é tarde demais para se corrigir algo, mas não podemos demorar para oferecer uma dieta liberal e generosa de História a cada criança do país de modo a dar peso às suas decisões, consideração às suas ações e estabilidade à sua conduta; essa estabilidade, cuja falta nos mergulhou em muitos mares tempestuosos de inquietação”.
O “Livro dos Séculos” de cada criança deve dar testemunho de “uma dieta liberal e generosa de História”. A partir dos dez anos de idade, as crianças do P.U.S. fazem esses livros, “colocando ilustrações de toda a história estudada durante o semestre (história bíblica, inglesa, francesa e História Geral)”. Seus livros também dão testemunho de algum estudo especial em museus a cada semestre. As crianças devem ser livres para inserir em suas páginas eventos e desenhos que as tenham interessado em sua ampla leitura geral da História (esse “arquivo inesgotável de ideias”) e da Literatura. Com o passar do tempo, as páginas vão se enchendo e são descobertos fatos históricos fascinantes que lançam luz sobre a história contemporânea e consecutiva em cada século. As crianças acostumam-se a tratar seus “Livros dos Séculos” como companheiros de todas as suas leituras. Utilizam os recursos locais dos museus, encontram informações nos jornais, trazendo recortes e ilustrações que remetem ao período especial que estão estudando. As descobertas atuais são observadas com interesse e anotadas na página do século XX ou no início do século a que se referem. Assim, a História, em um “Livro dos Séculos”, é uma coisa viva do presente, do passado e do futuro. Cada livro é uma obra individual de inteligência e, muitas vezes, de arte.
Embora “O Livro dos Séculos”, como tal, tenha sido parte programática do P.U.S. apenas desde 1915, sua forma anterior de um “Caderno de Museu” data de 1906. A falecida Sra. Epps defendeu em seu “Museu Britânico para Crianças” [British Museum for Children] a manutenção de um caderno, cada página representando um século, no qual se poderia desenhar esboços de objetos nos museus e anotar os principais eventos.
O “Livro dos Séculos” deve ser totalmente redigido de acordo com as instruções a seguir antes de se fazer qualquer ilustração. Isso evitará erros futuros que podem surgir por deixar poucas ou muitas páginas. O livro é composto por quarenta e oito folhas em branco, ou seja, noventa e seis páginas, para desenho, e um número correspondente de páginas pautadas.
Devemos começar no início do livro e encabeçar a primeira página pautada “Períodos Pré-Históricos”. Abaixo disso, convém escrever uma lista dos quatro Períodos – Paleolítico ou Pedra Antiga, Neolítico ou Pedra Nova, Idade do Bronze e início da Idade do Ferro – explicando o que significa cada um. Como a época dos Períodos Pré-históricos varia em cada país, achou-se melhor agrupá-los todos no início do livro, embora existam povos como alguns das Ilhas do Pacífico, que ainda estão na Idade da Pedra. No outro lado da página pautada escreva “Era Paleolítica” e ali insira quaisquer notas adequadas descrevendo este período, que podem ser obtidas no “Guia para a Idade da Pedra” [Guide to the Stone Age], publicado pelo Museu Britânico.
E isso é tudo que precisamos para as páginas pautadas de notas descritivas. Agora vamos voltar nossa atenção para as páginas em branco das ilustrações. Na primeira página coloque as palavras “Sedimentos Fluviais”, quanto a esse evento, pode ser desenhada uma cópia do belo exemplar de utensílios de pedra encontrado com alguns ossos de elefante em Gray’s Inn Lane (uma rua no distrito de Bloomsbury), Londres, no final do século XVII, cuja descoberta foi a causa do estudo de vestígios pré-históricos. Na próxima página de desenho escreva “As Cavernas” (ver página de espécimes), e aqui coloque ilustrações dos arpões, ferramentas, agulhas, etc. Na página seguinte, coloque “Recipientes de Cozinha”, e aqui desenhe conchas de ostras, facas, etc., encontradas nos enormes montes de lixo acumulados nos locais dos primeiros assentamentos. Na próxima página “Ferramentas de pedra”, com as lâmpadas de calcário, picaretas dos mineiros e seções de uma mina de calcário. Encabeçar a página seguinte “Arte Paleolítica”, cujas ilustrações são abundantes, por exemplo, a pedra gravada com um veado, um punhal com cabo esculpido em forma de mamute. Na página seguinte “Idade Neolítica”, mostrando os utensílios mais elaborados e polidos do final da Idade da Pedra. Então, na página seguinte, “Idade do Bronze”, com ilustrações de instrumentos de bronze, etc., e uma seção de um “Túmulo redondo”.
Agora devemos nos atentar para as últimas dez páginas em branco no final do livro. Estas devem ser guardadas para pequenos mapas de países mencionados na parte principal do livro, como a costa noroeste da Europa no Paleolítico; Egito; Babilônia e Assíria, incluindo Síria e Pérsia; Grécia e Ásia Menor com a costa norte da África, um esquema de Atenas; o Império Romano, um esquema de Roma; Grã-Bretanha romana, esquema da Londres romana; um mapa ilustrando a conquista inglesa da Grã-Bretanha; Inglaterra anglo-saxã; e assim por diante, terminando com mapas da Europa, antes e depois da Grande Guerra. Nas páginas pautadas ao lado dos mapas pode-se escrever uma pequena descrição da história ilustrada pelos mapas, ou uma menção dos séculos em que se pode encontrar referência a esses países. A escolha de quais mapas devem ser incluídos cabe ao proprietário de cada livro separadamente. Estas são apenas sugestões.
Então devemos voltar para a décima segunda página pautada a partir do final. Entre as duas linhas superiores escreva um grande “Século 20, d.C.”; a partir daqui, trabalhe de trás para a frente, escrevendo no topo de cada página pautada, respectivamente, “Século 19, d.C.”, “Século 18, d.C.” etc., até o “Século I a.C.” Continue então a partir do “Primeiro século a.C.” até o “Século 54, a.C.” Temos agora apenas cinco páginas, e como há tão poucas datas conhecidas até agora na história do mundo, não há mal nenhum em agrupar dez séculos em cada página, ou seja, o após o 54 seria o “ Séculos 64 a 55, a.C.”, depois “74 a 65 a.C.”, “84 a 75 a.C.”, “94 a 85 a.C.”,e “104 a 95 a.C.”. Eu entendo que houve descobertas de objetos feitos desde o século 100 a.C., então isso cobrirá esse período e deixará uma margem para descobertas talvez ainda a serem feitas de um período ainda mais antigo. Temos agora – exceto nas últimas páginas mencionadas – para cada século uma página pautada na qual os fatos devem ser colocados de acordo com a data e uma página em branco para as ilustrações daquele século. Como há vinte e três linhas em cada página e duas foram ocupadas pelo título, uma linha deve ser traçada na décima primeira linha da parte inferior da página para dividir a metade superior da metade inferior, de modo que haja apenas vinte linhas restantes para as datas. Isso significa que cada linha representa cinco anos e, portanto, um evento que aconteceu no terceiro ano de um século d.C. seria colocado no meio da primeira linha; um que aconteceu no quadragésimo segundo ano será colocado na nona linha para baixo, o segundo lugar, e assim por diante (veja a página exemplo do século XVI d.C.).
Deve-se lembrar que enquanto nos séculos depois de Cristo, d.C. os números anteriores estão no topo da página (ou seja, no século I d.C., as duas linhas superiores representam os anos 1 a 10 d.C.), nos séculos a.C. é o inverso, e os números anteriores estão na parte inferior da página (ou seja, no século 1 a.C., as duas linhas inferiores representam os anos 10 a 1 a.C. Deve-se tomar cuidado também para colocar as datas corretamente, por exemplo, a Carta Magna seria colocada no final da terceira linha do século 13, a menos que isso seja indicado, as crianças muitas vezes cometem o erro de colocá-lo no 12ª.
Há cerca de cinco páginas duplas em branco no “Livros dos Séculos”. Estas podem ser usadas para desenhos dos deuses antigos na parte anterior e arquitetura do período na parte posterior do livro, ou para coleções de desenhos que o proprietário possa desejar fazer.
Tinta nanquim (à prova d’água) deve sempre ser usada para os desenhos, e ilustrações coloridas ocasionais são muito eficazes. É permitido colar boas gravuras, ou fotografias, quando o assunto for muito difícil de ser desenhado, mas isso deve ser feito apenas ocasionalmente, pois pode tornar o livro muito volumoso. Como o livro deve ser um interesse para toda a vida, é melhor que as crianças deixem de lado os assuntos mais difíceis até que tenham idade suficiente para lhes fazer justiça. Naturalmente uma página é um espaço muito pequeno para ilustrar todo um século e, no entanto, é um erro deixar duas páginas para alguns séculos, como tenho visto em alguns livros, pois elimina toda a ideia de um livro; portanto, cada um deve escolher o que considera os eventos mais característicos, planejando a disposição da página, na medida do possível, antes de desenhar. Desta forma, não haverá dois livros iguais, e há grande interesse em compará-los. Acha-se uma boa ideia que cada um mantenha uma ideia central de ilustração ao longo do livro, por exemplo, um irá ilustrar navios; outro, armas; outro, instrumentos musicais, trajes e ornamentos de diferentes épocas; estas além das ilustrações usuais dos vários eventos em cada século.
Como poucos meninos são capazes de manter um “Livro dos Séculos” depois de deixar a sala de estudos, eu deveria sugerir que eles mantivessem um “Livro dos Períodos”, dando uma página para os egípcios, assírios, gregos, romanos, antigos bretões, anglo-saxões, normandos, etc.
Muitas vezes me pergunto se seria bom manter um “Livro dos Séculos da Família”, caso a maioria das crianças esteja no internato, deixando cada um adicionar sua contribuição enquanto estão em casa para as férias, rubricando-o e datando-o. Tenho mantido um “Livro dos Séculos da Escola” ao qual cada criança, que tem seu próprio “Livro dos Séculos”, acrescenta sua contribuição durante seu último semestre.
O “Livro dos Séculos” é uma grande alegria para o proprietário, e mesmo nestes dias agitados é possível encontrar algum tempo, ainda que curto, para acrescentar uma ilustração de vez em quando. As crianças sempre têm um grande prazer em seus livros. Não há necessidade de ser um artista para ter um livro bastante interessante – no entanto, limpeza e precisão são essenciais. A cópia de um desenho não deve ser permitida, pois os livros perdem seu toque individual [a cópia, por cima da folha, não deve ser permitida]. Os museus serão revestidos de um novo interesse para os guardiões desses livros, que poderão reconhecer objetos que já se tornaram velhos amigos por meio de seus “Livros dos Séculos”.
As reproduções abaixo são tiradas de três “Livros de Séculos” diferentes. A primeira – a da página na parte pré-histórica intitulada “As Cavernas” – é de uma aluna do P.U.S. que mantém um livro desde 1920, quando tinha dez anos.
A segunda – a do “Século 6, a.C.” e suas notas acompanhantes – é do livro de um ex-aluno de Ambleside.
E a terceira – aquela “do século 16, d.C.” – é do livro de um aluno do P.U.S. que hoje tem dez anos, ilustrando o período estudado na História inglesa no último semestre (Programa 109).
Os seguintes livros, etc., são recomendados para ilustrações, embora eu tenha certeza de que o leitor encontrará muitos outros nas estantes com cópias adequadas neles:
Any of the Official Guides of the British Museum.
Outline of History, by H. G. Wells.
Webster’s Early European History, The Birth of History,
The Dawn of History (all published by Harrap).
Piers Plowman Histories, Junior Book IV.
Illustrated Helps to the Study of the Bible.
Breasted’s History of the Early World.
Pictorial History, by H. W. Donald, and The “Suggestions” Historical Illustrations, Sets A., B., C., D. (both published by Charles & Son, Paternoster Square).
A History of Everyday Things in England, by M. and C. H. B. Quennell.
*P.N.E.U. (Parents’ National Educational Union) foi uma organização que forneceu recursos e apoio para professores e homeschoolers no Reino Unido, de acordo com as idéias educacionais de Charlotte Mason.
Texto oiriginal publicado por Chalrotte Mason Poetry
Traduzido por Erick Benke, Envision Pro Academy
Revisão, Francince Barbosa.