Ensino das Escrituras por Time de Transcrição (Charlotte Mason Poetry) 14 de Julho de 2020
Nota do editor por Art Middlekauff:
Helen Emma Wix era uma “portadora da tocha” graduada na Casa de Educação de Charlotte Mason. Nasceu em 1882 em Sydney, Austrália e deixou este mundo cem anos mais tarde em 1982. Graduou-se na Casa da Educação em 1903 e em 1910 já servia como governanta. Então ela serviu, por um tempo, como “Secretária assistente de organização no escritório da P.N.E.U.” No entanto, um grande avanço aconteceu em 1921, quando Wix, “após vários anos de experiência de ensino e organização”, “foi nomeada uma das Inspetoras de Sua Majestade” (PR40, p. 282). De acordo com Essex Cholmondeley, “esta nomeação deu grande alegria a Miss Mason” Como inspetora escolar oficial, Wix poderia exercer alguma influência nas escolas do governo. “Embora oficialmente Miss Wix não pudesse recomendar aos professores qualquer método de ensino, ela poderia dar reconhecimento ao bom trabalho realizado nas quatro ou cinco escolas do condado, seguindo os programas P.U.S.”.
Mas apesar deste importante papel, Wix carregaria a tocha de Charlotte Mason de uma outra forma. Henrietta Franklin explica:
“Em 1929 alguns de nós sentimos que não poderia haver melhor memorial para Charlotte Mason do que estabelecer uma escola pública feminina que não só provasse … que meninas poderiam ser educadas de acordo com os princípios e métodos de Charlotte Mason até [a idade de] 18 anos, mas isso também numa escola que deveria ter as acomodações de uma grande escola pública…”
A nova escola chamava-se Overstone, e Wix “renunciou a [seus] cargos importantes” para se tornar a “primeira diretora” da escola. Wix levou a sério o seu papel, e sob a sua liderança, a escola descreveu-se como se segue:
“O objetivo da Escola é dar uma educação essencialmente P.N.E.U. e os programas P.U.S. são seguidos em toda a Escola, com as modificações nas formas superiores que possam ser necessárias para as meninas que desejam estar preparadas para um exame de qualificação para as Universidades, ou tais que lhes permitam iniciar uma carreira profissional.”
Wix serviu como diretora de Overstone até 1947.
Em 1915, Wix havia sido recém-graduada da faculdade de formação de professores de Charlotte Mason. No entanto, a sua preocupação com as formas superiores já estava claramente na sua mente mesmo então. Nesse ano, ela escreveu um artigo para a Parents’ Review sobre o ensino das escrituras. No artigo, as Classes I e II correspondem aos Níveis I e II, mas a Classe III corresponde aos Níveis III e IV, e a Classe IV corresponde aos Níveis V e VI.
Adoro partilhar excertos deste artigo quando falo sobre o programa de Mason para as lições bíblicas. Hoje estou encantado por poder partilhar na íntegra o artigo de Wix, para que, agora, as suas citações possam ser vistas e apreciadas no seu contexto original.
Ensino das Escrituras por H. E. Wix
The Parents’ Review, 1915, pp. 590-595
O método de ensino da Escritura na Escola Parent’s Union é tão simples e, penso eu, soará tão fácil, que pode parecer enfadonho. E, no entanto, não há nenhum assunto que necessite de tanta preparação prévia, nenhum assunto que seja tão difícil de ensinar quando o momento chega, e penso que nenhum assunto é muito mais difícil de se falar do que esse.
Temos quatro lições por semana – História do Antigo Testamento às segundas e quintas-feiras, e Novo Testamento às terças e sextas-feiras – e livros preparados para a leitura dominical. Cada lição dura vinte minutos, e a Escritura é sempre a primeira lição do dia. Isto é importante, porque ajuda a dar à Escritura um caráter próprio. Esta lição em especial tem valor intrínseco, e embora em todas as suas lições as crianças devam naturalmente comportar-se bem, ainda assim na lição da Escritura o comportamento delas deve ser ainda melhor. Uma atitude reverente ajuda a mente a ser reverente também, e a maioria das pessoas concordará que um bom começo do dia afeta o resto do trabalho da manhã.
Quanto aos métodos de ensino, penso que como o meu tempo é limitado, apresentarei a Classe I, isto é, os bebês, e Classe III com mais detalhes. A Classe I, isto é, para crianças dos 6 aos 9 anos, está dividida em duas divisões, A e B, sendo A a turma mais jovem. Nesta aula usa-se os livros do Dr. Paterson Smyth, ou seja, os seus livros são colocados no programa para o professor utilizá-los para a ajudar a preparar o trabalho. A aula em si é simples e curta. Algumas perguntas ligam a história futura com a da última aula, pode ser necessária uma breve introdução, uma ou duas imagens para ajudar as crianças a visualizar os arredores, um mapa talvez, e qualquer ponto da narrativa da história que seja difícil o suficiente para interromper a linha narrativa, é explicado. Depois os versículos da Bíblia são lidos às crianças. Há muito na forma como são lidos; de forma simples, lenta e clara, de modo a que as crianças se possam lembrar não só da história, mas também das palavras propriamente ditas. Não há interrupções na leitura, tudo foi previamente preparado, e agora tudo o que as crianças têm de fazer é ouvir atentamente. Terminada a leitura – e nós só lemos uma vez – as crianças “narram o máximo que podem, na linguagem da Bíblia”. Usamos esta forma de narração em muitos assuntos nos P.U.S, e em nenhum deles com maior sucesso do que na lição bíblica. As palavras simples apelam às mentes infantis. Terminada a narração, e ela é geralmente tão precisa e espirituosa que chega a ponto de surpreender os meros adultos, aí vem a parte da “discussão” da lição. Não consigo pensar num nome melhor para ela. Talvez um parágrafo particularmente vívido ou interessante de Paterson Smyth possa ser lido às crianças; e os seus livros apelam à imaginação de uma forma realmente muito maravilhosa. Ou talvez se possa ler um poema ou um hino ligado à lição, ou mostrar uma ou duas imagens, ou o quadro negro pode ser usado para algum diagrama explicativo. Mas o que quer que se faça nesta parte da lição, o professor não a domina, mas tendo, por exemplo, mostrado a imagem, deixa as crianças olharem para ela em silêncio; elas compreenderão muito bem se apenas ele não falar e não explicar o tempo todo. Uma simples ideia para inspirar a sua vida quotidiana pode terminar a lição, as crianças descobrem-na muitas vezes por si próprias. Também temos hinos e partes da Bíblia aprendidos de cor, alguns versículos escolhidos de cada trimestre dos capítulos tanto do Antigo Testamento como do Novo Testamento. Desta forma, quando as crianças entram na Classe II, ou seja, quando têm cerca de 9 anos, sabem de cor uma quantidade bastante razoável, e todas as histórias dos livros anteriores do Antigo Testamento e de um dos Evangelhos e de Atos. Penso estar certa ao dizer que geralmente é S. Mateus ou S. Lucas que é escolhido.
Na Classe II são ensinadas da mesma maneira; mas agora leem a Bíblia em voz alta, é claro. Levam as coisas com mais detalhe; as histórias estão agora ligadas entre si numa narrativa mais contínua; os livros anteriores do Antigo Testamento, até ao reinado de Salomão, os três primeiros Evangelhos, e Atos são cobertos nesse trabalho. A narração na linguagem bíblica é, como antes, o trabalho base da lição, com informação suficiente vinda de livros, imagens, etc., para que eles formem o cenário correto da história. A esta altura, ou mesmo antes, as crianças querem saber porque é que a moralidade do Antigo Testamento é tão estranha. Moisés matou um homem, e, no entanto, é chamado o “servo de Deus”. Certamente matar é muito perverso, mas Moisés era um bom homem. Bem, estas são as perguntas que precisam de preparação prévia para serem respondidas. Podemos dizer às crianças que Moisés viveu há muito tempo quando o mundo era jovem, e sabia pouco de Deus e da Sua bondade, e que Deus nunca espera mais de nós do que podemos dar; também que é para nos ajudar que nos é falado dos pecados dos grandes homens. Temos de ajudar as crianças a compreender, e não de uma forma que tenha que ser contradita quando elas forem mais velhas, pois isso seria de fato prejudicial, não as ajudando.
Tendo atingido a idade de 12 anos, elas entram na Classe III. Nesta classe levamos as crianças mais longe; aprendem sobre os Reis, o Cativeiro, os Profetas, e quando os vários livros proféticos foram escritos e em que condições; e no Novo Testamento leem o Evangelho de S. João assim como os outros, e aprendem sobre os ‘Atos’ dos Apóstolos e os seus escritos, para que saibam, por exemplo, quando e por que foi escrita a Epístola aos Efésios, etc.
Uma lição para a Classe III precisa de muita preparação prévia; é preciso estar preparado para qualquer pergunta, e as crianças dos P.U.S. perguntam muito, pois querem saber, e muitas vezes, para a dor de muitos, compreendem melhor do que o professor. É claro que já atingiram a idade em que “se perguntam por que” todo o tipo de coisa. É a chamada “idade difícil”, mas é realmente a “idade das maravilhas”. A criança descobriu o “pensamento”, e o quanto é maravilhoso, tão perigoso, se não controlado, quanto a carruagem do Deus Sol quando o menino Phæton a conduzia. Assim, o trabalho do professor é realmente ajudá-las a conduzir essa carruagem de luz em segurança para si próprios e para os outros; pois nesta idade, a lição das Escrituras é uma tremenda formação em pensamento disciplinado, e o mundo está, afinal, razoavelmente dividido entre as pessoas que pensam e pessoas que não pensam, e o nosso objetivo como União é, sem dúvida, o de gerarmos homens e mulheres pensantes. Por isso, os encorajamos a fazer perguntas, e, com um pouco de ajuda, eles próprios podem muitas vezes as responder. Por exemplo, suponhamos que acabamos de ler as parábolas da descoberta da Pérola e da descoberta do Tesouro Escondido. A professora pode dizer que pensa que estas duas parábolas são muito parecidas, mas supõe que devem dar lições diferentes, ou não estariam ambas lado a lado. As crianças provavelmente olharão novamente para os versos, e muito certamente uma delas exclamará: “Oh, sim, eu percebo, elas são bastante diferentes, o comerciante estava à caça da pérola por toda parte, estava disposto a desistir de tudo o que tinha por ela, mas o outro homem apenas se deparou com o tesouro por acaso”. A partir deste ponto é fácil levar as crianças a pensar sobre personagens da Bíblia que encontraram ou a Pérola ou o Tesouro, e depois, de novo, sobre pessoas sobre quem leram na história.
A lição das Escrituras nesta idade já não é simplesmente um lote de histórias ligadas, é a história de uma nação singularmente posicionada; os escritores desta maravilhosa história foram inspirados por Deus para mostrar todas as coisas por meio da Sua Mão Guia, da Sua bondade, da Sua maravilhosa Paciência com o homem indisciplinado, da Sua Justiça e da justa punição do mal. As crianças veem que a história ainda continua, que a estamos escrevendo, que embora os livros de história moderna não sejam inspirados, ainda assim, com um olhar observador, podemos reconhecer a mão de Deus, e quando não a podemos ver, devemos simplesmente acreditar. Quanto à correção verbal da Bíblia, é muito fácil para as crianças verem que, como os escritores eram meramente humanos, erros e imprecisões estavam fadados a ocorrer, especialmente porque, provavelmente, muitas coisas nem sequer foram escritas até que se passassem gerações após o evento relatado.
Nesta altura as crianças já têm quase idade suficiente para compreenderem também o grande ensinamento do Novo Testamento, o fio de ouro de tudo isto – isto é, a verdade da Vida Eterna – a grandeza e o valor do invisível, o inquebrantabilidade da Vida, o pouco valor das coisas terrenas. Muito disto pode ter que ser deixado para a Classe IV, mas não pode haver nenhuma regra dura e rígida; muito deve depender da porção exata da Escritura definida para o trabalho do trimestre, e claro, do temperamento das crianças.
Algumas pessoas parecem pensar que a lição das Escrituras é a oportunidade de ouro para falar seriamente com as crianças sobre os seus defeitos. Isto pode ser permitido em ocasiões muito raras, mas se esse recurso for usado muitas vezes, isso pode levar as crianças a temer as lições, e a concordar com uma menina que conheci e que disse: “Penso que as nossas lições bíblicas são bastante pessoais, não acha?” Não quero dizer que na escola da P.U não ajudamos as crianças a ver o maravilhoso ensinamento da Bíblia como aplicado à sua vida quotidiana; nós o fazemos. Mas o ensino é objetivo; as crianças são pessoas, e não é justo para ninguém discutir os seus defeitos perante outrem.
A classe IV funciona muito mais à parte. A Bíblia é, evidentemente, como deve ser para sempre, o trabalho de base e a base de todo o seu estudo. Mas elas agora têm livros preparados para a sua leitura, para as ajudar em relação à parte da Bíblia que têm de estudar para o trabalho do seu trimestre. Estes livros são, na sua maioria, escritos pelos nossos grandes pensadores e professores; alguns irão aumentar o mero conhecimento do leitor, outros estão preparados para a leitura dominical, para o pensamento tranquilo e a meditação. Vou ler-vos o conjunto de trabalhos para a Classe IV deste trimestre, e verão o que quero dizer (a partir do programa).
Durante o tempo de aula na Classe IV, professora e aluna leem, por assim dizer, juntos. Nunca acreditamos, nos P.U.S., em trabalhar para ou nas nossas alunas, elas têm muitas vezes muito mais sabedoria do que nós, mas na Classe IV este é especialmente o caso. A professora é certamente mais velha do que a sua aluna, e tem, podemos supor, um pouco mais de experiência, e preparou a lição de antemão, e tudo isto lhe dá uma vantagem justa e correta, e por isso pretende ser guia, conselheira e amiga da menina o melhor que puder.
Quase não abordei a difícil questão da Crítica Superior, e não mencionei o tema da investigação histórica. Esta última é utilizada de uma forma simples, mesmo desde as fases iniciais. Alguns conhecimentos sobre as maravilhosas descobertas no Egito e na Mesopotâmia são uma grande ajuda no ensino de crianças pequenas. O relato assírio do dilúvio ajuda a lançar a beleza do relato bíblico, e assim por diante. Qualquer coisa que ajude as nossas crianças a um melhor e mais profundo conhecimento da Bíblia, isso podemos utilizar, mas não podemos utilizar nada que possa vir a revelar-se uma pedra de tropeço. Tendo desde a sua infância lido e aprendido e amado a Bíblia, tendo descoberto gradualmente que longe de ser simplesmente uma colecção de histórias “encantadoras”, que ela é, antes, uma história inspirada de uma nação guiada por Deus, e mais uma vez que é a história da autorrevelação gradual de Deus ao homem, que ela é de fato uma mina inesgotável de sabedoria – muito mais preciosa do que o mero conhecimento – certamente será preciso muito mais do que o espírito moderno de crítica para abalar a sua fé?
Há tanta coisa que eu deixei de fora que receio ter dado a vocês pouco mais que uma pobre ideia de como a Escritura é ensinada na Escola. Mas apesar de toda a minha fala, a forma como Miss Mason deseja que ensinemos pode ser expressa de forma muito breve. As crianças leem a partir da Bíblia, e narram a partir da Bíblia. Levamos elas à Fonte Mestra na esperança de que quando chegarem além da nossa orientação, tendo provado as Águas da Vida, nunca tenham sede.
Texto oiriginal publicado por Chalrotte Mason Poetry
Traduzido por Erick Benke, Envision Pro Academy
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